Páginas

sexta-feira, 10 de abril de 2015

CICLOVIAGEM PELO LITORAL POTIGUAR

Antes de iniciar o relato deste cicloturismo, gostaria de escrever algo que fosse sensível e com verdadeiro espírito de gratidão.

Nada do que vivi, conheci, experimentei e senti seria possível se não fosse a amizade sincera e generosa de Denise Vida.


Só pra começar, se não fosse ela, eu jamais pensaria em pedalar pelo Rio Grande do Norte e muito menos saberia da existência da cidade de São Miguel do Gostoso.

Se não fosse ela eu jamais teria me aventurado nesta empreitada.

Tudo o que ela tinha dividiu comigo e se isso não é ter um grande coração então não sei o que é.

Minha querida amiga-irmã, nestas pobres palavras, o que eu quero dizer à você é: GRATIDÃO POR TUDO e que a VIDA te recompense com muita saúde, força e coragem.

O maior aprendizado desta viagem foi o de encontrar verdadeiros irmãos nos amigos.

Quarenta dias à nossa disposição...

Partimos, cada qual com suas expectativas, mas sempre pensando no positivo, no bom, no bem e no crescimento interior.


Dia 28/02/2015 - Chegando em Natal

Chegamos na linda cidade de Natal pela hora do almoço. 
Para chegar no flat, na praia de Ponta Negra, passamos pelo Parque das Dunas - um visual diferente de tudo o que tinha visto em minha vida.

No flat, nosso primeiro impulso foi tomar um banho de piscina. Depois fomos conhecer a praia e o Morro do Careca.



Algumas andanças pelas lojinhas e muita alegria na alma.

Neste dia pedalamos 42km.

Dia 01/03/2015 - Iniciando a Costa das Dunas

Choveu na madrugada, mas pela manhã já tinha sol.
O dia amanhece cedo por aqui.

Nosso café da manhã foi cuscuz, melão, uvas, iogurte, queijo e café solúvel.


Vamos começar a subir para São Miguel do Gostoso.

"Subir" é um termo que os moradores do sul e sudeste usam quando vão para o Nordeste. Mas por lá eles dizem exatamente o contrário. Isto porque em latitude nós, aqui do sudeste, estamos em graus mais altos do que os do Nordeste e Norte. Natal, por exemplo, está a 5º de latitude enquanto aqui em São Paulo estamos a 23º

08:00h: Pegamos a Avenida Costeira, com uma boa estrutura cicloviária, e seguimos com o visual das belas praias urbanas de Natal de um lado e do parque das dunas do outro.


















Após alguns Km's alcançamos a Ponte Newton Navarro (http://pt.wikipedia.org/wiki/Ponte_Newton_Navarro)




Do alto, vê-se a Fortaleza do Reis Magos (http://pt.wikipedia.org/wiki/Fortaleza_dos_Reis_Magos).




Após esta ponte pênsil muito bonita chega-se às praias mais frequentadas, como Redinha e Santa Rita, onde fomos pedalando pela areia da praia, até Genipabu, onde fizemos uma travessia de barco até Barra do Rio.


















Passamos pelo pequeno vilarejo de Graçandú - uma praia da cidade de Extremoz.

12h20m.: Estamos na Vila de Pitangui, cansadas por causa do sol forte. Sinto uma sede sem fim.
Vamos pedalar um pouco mais, uns 7 quilômetros, numa estrada entre dunas - as Dunas de Genipabu: uma paisagem absolutamente nova para mim.
O sol castiga e eu descuidei do filtro solar.






13:30h: Chegamos na Vila de Muriú, depois de passar por Porto Mirim e Jacumã, e encontramos a Pousada Estrelamar, de frente para o mar.


Descarregamos as bikes, tomamos uma cerveja bem gelada e fomos conhecer a Lagoa de Jacumã. 
Era domingo e o lugar é muito bonito.


Na volta à Muriú, encontramos o padre na frente da Igreja de São Benedito para a missa de domingo e paramos para trocar uma idéia e pedir a proteção.




Neste dia pedalamos 66km.


Dia 02/03/2015 - Maxaranguape e Cabo de São Roque

Antes de partir da pousada Estrelamar, como o dia chega sempre às 5 da manhã, aproveitamos para conhecer a praia e ver o sol nascer. Mas o tempo estava carregado.


Realmente, caiu a maior chuva!
Pensamos que choveria o dia todo, mas não. E assim que ela diminuiu nós partimos em direção à Maxaranguape.


Nesta pequena vila fica o Cabo de São Roque, que é o ponto da América do Sul mais próximo da África e onde fica o Farol de São Roque. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Cabo_de_São_Roque) 















Antes do farol, encontramos a Árvore do Amor, que nada mais é do que o "abraço" de duas gameleiras, árvore típica da região. Dizem os nativos que o casal que se beijar embaixo do arco formado pelos troncos das árvores jamais se separará. É realmente muito bonita essa árvore e ao lado tem uma barraca onde tomamos uma água de coco. Crianças estavam por ali pedindo algum trocado.


13:50h: Chegamos em Maracajaú com 28km de pedal muito tranquilo.


Estrategicamente, resolvemos ficar por aqui. Encontramos a Pousada Corais de Maracajaú.


As bicicletas carregadas chamam a atenção e as cicloviajantes são recepcionadas com muita cortesia.

Venta forte, mas fomos conhecer a praia. Muitas construções estão em ruínas por causa do avanço do mar.


















Aqui começa uma grande área de proteção de recifes de corais. A sete quilômetros da praia estão os parrachos, que são barreiras de coral que formam piscinas naturais. Barcos levam os turistas para mergulhar.

Saímos da praia, atravessamos a Vila e subimos as dunas para ver o por do sol, muito lindo!



O que comer depois de um dia agitado? Sopa é sempre uma boa opção por aqueles lados.


03/03/2015 - Malucas de BR


07:45h: Decidimos sair da costeira e pedalar pela BR 101 até São Miguel do Gostoso.
























A rodovia segue por muitos Km's com pouco movimento e quase sem viva alma. 

Sem sombra e com a típica vegetação tabuleiro, pedalamos sob sol forte.


Quando chegamos na entrada de Touros ficamos mais animadas pois nossa água já estava quente e no fim.


















Chegando no trevo de São Miguel do Gostoso, apesar do calor e da sede, resolvemos seguir até o Marco Zero da BR 101. É sempre tão emocionante esses marcos!




















Vimos algumas casas ali perto e resolvemos pedir água e, além da água, recebemos maçãs e bananas.

Com o "gás" necessário, voltamos ao trevo de São Miguel e pegamos a estrada.



















11:40h: Chegamos na Vila de São José com 61km pedalados e paramos na primeira sombra que vimos.


Trata-se da "Urca do Tubarão". Um espaço amplo, de 6.000 metros quadrados, com 5 chalés, restaurante, cachaçaria e a casa dos proprietários.

Logo que chegamos os funcionários nos disseram: - os donos também são ciclistas!

Lembrei-me do querido Gê, por causa dos objetos antigos expostos no salão e por causa da própria construção rústica.

O sol exaure e nós, então, demos um tempo. Comemos uma fritada de camarão, tomamos uma Heineken, descansamos naquela sombra prazerosa e seguimos na pedalada até São Miguel do Gostoso, a 8km dali.




14:00h: Debaixo de sol forte, chegamos na cidade de SMG. A Denise havia providenciado uma reserva num chalé, mas ela não gostou do lugar. Eu deixei todas as decisões por conta dela, que já conhecia a região.





*Um smartfone é mais importante que um carro - alguém uma vez me disse. E é verdade. Por causa dessa maravilha tecnológica, falamos com a Lila Nobre, da Urca, e ganhamos uma noite cortesia na pousada.
Ficamos animadas em fazer da Urca o nosso base camp.





Dia 04/03/2015 - Ciclo-hóspedes da Urca


Não tive problemas em me adaptar ao "fuso horário" daqui. 


Acordamos cedo na Urca e fomos dar uma olhada na praia. Da janela do quarto dá pra ver o mar.





Naquele trecho da praia, o mar deposita muitas conchas e em alguns lugares só atravessamos com a maré seca. Mas hoje só fomos dar uma olhada.



Ainda não conhecemos os donos da Urca e temos que acertar nossa permanência aqui.

07:00h: Lila e Edson Nobre formam um "casal muito feliz", segundo suas próprias palavras e adoram pedalar.
Nos viram ontem na BR.

Lila preparou um gostoso café da manhã e fez uma proposta bem razoável: vamos ficar!
Depois do papo básico, aceitamos o convite pra um pedal até Touros. Sempre que a direção é sul-sudeste, o vento é contrário e constante.

A Urca fica na praia de São José, entre Touros (ao sul) e São Miguel do Gostoso (ao norte). Vizinhos da vila de São José ficam a praia de Lagoa do Sal e do Cajueiro. 



















Entramos pela praia do cajueiro e saímos no final da BR 101 novamente, onde Edson fez várias fotos nossas e nos levou até o Farol do Calcanhar. Esse farol fica bem "onde o vento faz a curva" no continente sul-americano e é o segundo maior da América Latina.




















Depois, pegamos a mesma BR de ontem e entramos em Touros, a maior cidade ali perto (http://pt.wikipedia.org/wiki/Touros).

A cidade de Touros possui muitos amantes do pedal e Edson nos levou a conhecer o Neto. Eles tem uma equipe de pedal chamado Pedal do Calcanhar e pedalam MUITO.




Na volta à Urca, mesmo com o vento a favor, o sol castiga.

Foram 40km de pedal e ainda temos de ir à S.Miguel para pegar nossas coisas. 

Pra não desanimar, nem paramos na Urca.

Pedalada do dia: 58km.


Dia 05/03/2015 - Dia de descanso


Encontrei um cantinho na Urca bem sossegado, pedi um livro emprestado e fiquei lendo, enquanto Denise foi resolver algumas questões em São Miguel.



A Maria, filha caçula da Lila, me emprestou um livro. Ela é uma menina linda e muito inteligente e articulada. Tenho certeza de que terá um futuro brilhante pela frente.


Dia 06/03/2015 - Primeiras fotos na Rede Social


Mesmo com céu nublado, saímos com intenção de ir até a Praia de Tourinho. Essa praia fica depois de São Miguel uns 7km e a estrada é de barro, como dizem por aqui. Como o tempo fechou de vez, abortamos o pedal.


Estrada para os povoados do Reduto e Tabua e para as praias ao norte de S.Miguel do Gostoso


Encontramos uma LanHouse e eu pude, pela primeira vez, postar fotos da viagem.

Choveu muito forte enquanto estávamos na Lan. Mais uma vez, a generosidade da Denise se fez presente e ela providenciou capas de chuva para nós duas.

De volta à Urca, encontramos o ciclista Bráulio, 70 anos, muito ativo e forte. Ele está, inclusive, planejando uma cicloviagem à Brasília ainda este ano.


Edson e Lila Nobre e Bráulio

Pedal do dia: 40km.


Dia 07/03/2015 - Longa caminhada pela praia
Sol!
Saímos para conhecer a extensa praia ao norte de São José. Praia deserta e a paisagem é de areia e coqueiros. Conforme caminhamos a praia vai mudando de nome, de acordo com os povoados que estão na beira da estrada. 



A Urca situa-se na praia de São José. Depois tem a praia de Monte Alegre e por aí vai, até chegar a cidade de São Miguel do Gostoso, que fica a 8km. 

A caminhada pode ficar bem longa e a gente tem que lembrar que a volta é sempre com vento contra e, às vezes, com a maré alta. Se esquecer a água, a sede também pode tornar tudo mais difícil.





Dia 08/03/2015 - Visita ao farol do calcanhar


Choveu forte ontem à noite, mas amanheceu bonito.
A cozinha do restaurante foi liberada para prepararmos nossas refeições: tapiocas, cuscuz com queijo coalho e outras delicias.

Conseguimos coletar mangas nas redondezas e elas tinham um sabor e um perfume deliciosos.

Saímos para caminhar na praia ao norte novamente, porque é mais desimpedida, sem as enormes pedras e falésias que encontramos ao sul.
Estávamos longe quando vimos a chuva chegando. O único abrigo era uma choupana de pescadores. 



















Diferente do sudeste lá, quando chove, não ouvimos raios e trovões. Pode ser que tenha, mas em nenhuma chuva eu os ouvi.

A chuva passou rápido e foi em direção ao oceano e nós voltamos com o vento contrário forte e a areia fofa. Foi bem exaustivo.

14h: O Farol do Calcanhar abre às visitações aos domingos. Fomos até lá, mas não permitem que se suba por ele. Mesmo assim foi muito legal estar na "esquina" do Brasil.


















16h: Chove novamente. Hoje senti saudades dos queridos que estão longe.



Dia 09/03/2015 - Falésias

O dia amanheceu bem nublado, parecendo que iria chover a qualquer momento. Quando o sol apareceu entre muitas nuvens, pegamos as bikes e fomos até São Miguel. São oito quilômetros até o centro. Fomos ao banco, ao único posto bancário da cidade, mas uma greve dos vigilantes deixou a cidade sem dinheiro. 
Enquanto esperávamos a LanHouse abrir, fomos até a feira-livre - enorme e muito frequentada.




Lá pelas onze horas voltamos à Urca e resolvemos caminhar pela praia, ao sul. A maré estava baixa e nós conseguimos passar pelas pedras e chegar à praia de Lagoa do Sal. Depois das falésias tem uma linda duna. Todas as praias são desertas, vê-se apenas alguns pescadores.


















Minha pele sofreu um bocado no primeiro dia de pedal, por descuido. Agora, minhas costas estão descascando. Que estrago! Interessante observar que o lado direito está pior do que o esquerdo.

Eu sei que é tarde demais, mas estou caprichando na proteção da pele, porque o sol e o vento fazem um estrago enorme em pele clara como a minha.


Dia 10/03/2015 - Touros


Hoje fomos pra Touros porque era preciso resolver algumas pendências financeiras. Saímos cedo e o vento estava forte. São 20km até lá.





Era dia de feira e a cidade estava cheia. Dia de feira-livre em Touros me pareceu um evento importante: ela atrai moradores dos povoados das redondezas. 



Neste dia a cidade fica muito barulhenta, com carros e motos fazendo propagandas com caixas de som.

Demos uma olhada na praia e entramos na Igreja de Bom Jesus dos Navegantes, construída em 1800. Na frente da igreja tem os canhões coloniais.



































Choveu forte na volta, mas foi chuva passageira, só serviu para nos molhar.

Já na Urca, descemos à praia para garimpar conchas.

Mais tarde, a Denise sugeriu que fossemos à São Miguel para conhecer a Praia de Maceió, linda, de areia branquinha e muitas jangadas no mar.
Tem um quiosque no canto e nós ficamos por ali um tempo.


















Dia 11/03/2015 - O caminho até São Miguel do Gostoso

O dia amanheceu meio nublado e ventando, como de costume. Mesmo assim, aproveitamos todas as horas.

Depois da caminhada na praia, pegamos as bikes e fomos até São Miguel.

A estrada simples é ladeada por coqueiros, cajueiros e mangueiras.

Nas vilas, à beira da estrada, as casas são construídas a uns 5 metros de distância, sempre com árvores na frente e geralmente tem cães, cavalos, jumentos, bodes e vacas e bois, que carregam sinos no pescoço.





As pessoas ficam tranquilamente sentadas em cadeiras ou deitadas em redes e algumas possuem uma banca na frente de casa onde vendem frutas, legumes e verduras.

Tem uma árvore por lá - todos os lugares tem essa árvore - com flores brancas muito bonitas. Ela é exótica e ninguém soube dizer seu nome.

Nós a apelidamos de venezuela, já que nos contaram que ela foi trazida de lá.

Tentaremos trazer mudas dela pra São Paulo pois disseram que é super fácil de pegar.

Em São Miguel, fomos até o sitio da Elisângela, funcionária da Urca: gente simples e unida. Vimos a construção da casa, os animais e o roçado recém plantado. Por não seguirem os princípios da permacultura, ou seja, a água em primeiro lugar, achei que eles são muito guerreiros.

Os parques eólicos estão cercando tudo por lá.


Saindo do sitio fomos até a praia de Maceió novamente, bem a tempo de ver os pescadores chegarem com o pescado. Depois de 12 horas no mar, trouxeram muitos peixes, alguns cações enormes de mais de 100kg.



O vento forte, atirando areia na pele, impedia que ficássemos expostas. Ficamos, então, no abrigo do quiosque e almoçamos por lá um risoto de camarão.

Trilha sonora mental de quase todos os dias:
https://youtu.be/27NBo-_RG4Q

Tradução:


Que Mundo Maravilhoso

Eu vejo árvores verdes, rosas vermelhas também

Eu as vejo elas florescerem para mim e para você

E eu digo para mim mesmo

O que é um maravilhoso mundo


Eu vejo céus azuis e nuvens brancas
Radiantes dias ensolarados, noites escuras sagradas
E eu penso comigo
O que é um maravilhoso mundo

As cores do arco-íris são tão bonitas nos céus
Estão também nos rostos das pessoas caminhando
Eu vejo amigos apertando as mãos dizendo:
Como você está?
Eles estão realmente dizendo
Eu te amo

Eu vejo bebês chorando, eu os vejo crescer
Eles aprenderão muito mais do que eu jamais saberei
E eu penso comigo
O que é um maravilhoso mundo
Sim, eu penso comigo
O que é um maravilhoso mundo

E eu digo para mim
O que é um maravilhoso mundo


Dia 12/03/2015 - Lagoas secas e carnaúbas

Apesar do céu maravilhosamente estrelado de ontem, quando fomos à praia para admirá-lo, o tempo virou na madrugada e choveu forte. Mas, como de costume até agora, amanheceu bonito e nós fomos para a habitual caminhada na praia (já estamos bronzeadas!).



Andamos por mais de uma hora pro norte, com areia muito fofa e maré alta. Paramos para descansar e voltamos com o céu cinza chumbo. Tivemos que nos abrigar da chuva e do vento forte.

A caminhada foi bem cansativa por causa da areia fofa e do chão em desnível, mas a Denise é muito forte e demora a se cansar.

Mesmo com as pernas cansadas, à tarde fomos explorar o "sertão" em frente à Urca: um lugar muito bonito, cheio de coqueiros e carnaúbas nativas.





Buscávamos algumas lagoas, mas elas devem estar secas. Voltamos sem encontrar uma única gota d'água.

16h: Temperatura agradável e venta um pouco.

Dia 13/03/2015 - Praia de Tourinho

O dia aqui amanhece às 5 horas.

Saímos antes das sete, com sol, para conhecer a Praia de Tourinho, distante 18km da Urca, ao norte de São Miguel. Praia paradisíaca!





Ao fundo vê-se um parque eólico; ali também há ninhos de tartarugas.

















Sombras agradáveis e convidativas e árvores deliciosamente perfumadas, um perfume que se sente de longe.

Poucas pessoas e nós duas.

Uma barraca abre à espera dos pescadores, que logo chegam, trazendo o peixe que seria nosso almoço logo mais.

O povo é humilde, de alma boa e simples.

O povoado próximo, onde se vê as mulheres trabalhando no artesanato chamado labirinto,chama-se Reduto.


















Toda a região é cercada pelos parques eólicos, que tem trazido desenvolvimento para o lugar. Pelo menos não veremos condomínios cercando estas maravilhosas paisagens.

Pedalamos 36km e o vento no retorno estava forte como sempre: um vento contra-lateral que nos obriga a fazer uma velocidade máxima de 10km/h.

Fecho meus olhos e preencho minha alma com as belezas daquele recanto maravilhoso.




Dia 14/03/2015 - Praia do Marco do Descobrimento

Hoje fomos conhecer a Praia do Marco do Descobrimento (http://blogln.ning.com/forum/topics/o-brasil-foi-descoberto-no-rio-grande-do-norte), que dista 33km da Urca e 18km da praia de Tourinho.



A parte mais chata é quando saímos de São Miguel e entramos na estrada de terra. São 7,5km de areia, pedras soltas e costelas de vaca, e bastante poeira por causa do trânsito dos parques eólicos.

Depois de Tourinho nos aproximamos mais das torres de energia eólica, gigantes.

















Encontramos uma aldeia de pescadores e o povoado de Morros dos Martins, bem pitoresco.

O caminho é bonito e as pessoas criam ovelhas e cabras.


Após o povoado, em direção à praia do Marco, passamos bem perto das gigantescas torres, que funcionam com um suave barulho das enormes pás de fibra de carbono.

Quando a gente chega na praia, parece um lugar fantasma, sem atrativos. Apesar disso, é um lugar importante para a História do Brasil. O Marco original está na fortaleza dos Reis Magos, em Natal.

















Mesmo assim, fizemos várias imagens, tomamos um banho de bica, um refri, algumas castanhas, e voltamos para Tourinho.

O que exaure não é a pedalada, é o sol e o vento.

Chegamos em Tourinho loucas por uma sombra e um banho de mar. Uma pena não ter água doce por lá.

Ficamos curtindo o paraíso até umas quatro horas da tarde.

Neste dia pedalamos 67km.

#hoje tem sarau na Urca#


Dia 15/03/2015 - Pururuca

Eu nem sabia que ontem era dia da poesia! Parece que todos os anos, Lila e Edson organizam um jantar e chamam os amigos e, quem gostar de declamar poemas e poesias, fica à vontade.

Amanheceu o dia com vento mais forte do que o normal. Resolvemos ficar na praia da Xepa, após o café da manhã na Padaria de Gostoso. Impossível estender a canga na areia.



Fui dar uma caminhada pela praia enquanto a Denise cuidava das nossas coisas porque ficar parada estava difícil.

Quando voltei e ela foi, fiquei ali na linha d'água.

Como era domingo, tinha um pouco mais de gente na praia e, a uns 50 metros de mim, vi um menininho com seus pais. Aquele cabelinho preto, o jeitinho de correr, me lembrou meu Pururuca e meu coração se encheu de saudades...

Sem condições de ficar ali por causa do vento (não é a toa que esta praia é o point dos esportes à vela), fomos até a praia de Maceió, mais abrigada.

Descobrimos um ótimo lugar para almoçar: self-service barato e bom, com suco grátis e sobremesa boa a 3,00.

Depois, só nos restou encarar o retorno com aquele vento brabo de frente.

O restaurante da Urca estava lotado e tudo o que eu queria era poder desfrutar da rede para ler o livro A Sobra do Vento, que o Edson me emprestou.

A gata da Urca, com olhos da cor da canga do Ganesha me faz companhia na varanda do chalé, assim como as moscas, que são como praga por aqui.

Denise está na praia aqui do fundo.

Dia 16/03/2015 - O nascimento das tartarugas


Longa caminhada pela praia da Urca. A queimadura da pele já não incomoda mais, nem se vê o estrago, mas talvez me sobre um câncer de pele.... 

Inverti a posição dos pneus da bike porque amanhã pretendemos ir até a cidade de Pureza.

À tardezinha fomos até a praia do Cardeiro, em SMG para presenciar o nascimento das tartarugas. Que lindo!






A ONG Amjus faz um belo trabalho! Vê-las ir de encontro ao mar foi muito especial, inesquecível.





Todos ficamos especialmente felizes e emocionados. Para as crianças deve ter sido fantástico!

https://youtu.be/veIKcoqK5J4


Dia 17/01/2015 - Pureza

"Tudo vale a pena se a alma não é pequena"

Assim me senti indo conhecer Pureza, pequena cidade a 100km da Urca. Disseram-nos que valia a pena. E valeu pelo olheiro - nascentes de água, cuja pureza deu nome à cidade.

 Nunca vi água tão cristalina! Verdadeiro tesouro.

Conforme orientação da Lila, pegamos o ônibus em frente à Urca às 6 da manhã e descemos no trevo. Vinte e quatro quilômetros depois chegamos lá, após passarmos por mais um parque eólico em construção, numa estrada de asfalto grosso e cercada pela vegetação tabuleiro.


















Tirando o olheiro, a cidade não tem nenhum outro atrativo. 


Que água! A Denise levou o snorkel e eu fiz algumas imagens dela muito legais.

http://www.connhecer.tur.br/cidades/cidade.php?id=3794

A idéia era voltar pedalando pela estrada de terra que começa no povoado de Tabuia pois nos economizaria muitos quilômetros de pedal, mas quando chegamos no início percebemos que seria inviável: o solo arenoso seria por demais cansativo.



Pegamos, então, o mesmo trajeto: sem sombra e com muita subida. O sol, como sempre, estava muito quente e chegar no trevo da rodovia RN 064 foi bem cansativo.

Quando chegamos no trevo e pegamos a rodovia, confesso que pensamos em pedir carona porque estava muito calor e o vento levava com ele nossas forças. E nada de encontrar algum lugar para pedir água.

Mas como era de se esperar, pedalando mais um pouco encontramos uma casa e a sombra de uma mangueira. Pedimos água para o menino que brincava na frente da casa e até tentamos pedir carona, mas ninguém parava...




É de se esperar o efeito de um liquido gelado e alguma coisa para mastigar. Seguimos, então, e nosso destino chamava-se Santa Luzia, a 30km dali.

Foi com satisfação que encontramos um lugar chamado Riachão, onde também tem um parque eólico em construção e uma pessoa empreendedora passou a servir almoço para os funcionários.
Era um sitio, com um galpão coberto, onde servia-se um self-service de boa qualidade com suco a R$ 1,00.

Eu não sei exatamente porque estávamos desanimadas, acho que era o calor. O lugar também, era um tanto desolado, sabe, com aquela vegetação baixa e muita areia mas, sem escolha, seguimos à frente.

Depois desse trecho "quente", começamos a ver enormes coqueirais e plantações de banana. A terra, ali, pareceu muito fértil.

Com alegria, em meio ao calor, encontramos o Rio Punaú. Que maravilha! Aproveitamos para um refresco naquelas águas.



Graças a Deus o vento estava a nosso favor!

Quando chegamos em Santa Luzia, pelo meio da tarde, eu já não queria mais pedalar. Faltavam mais 20km até Touros e 15 até a Urca.

Convenci a Denise a esperar o ônibus. Descobrimos que foi ótima esta opção, porque a estrada é simples, sem acostamento e tem muitas curvas e movimento grande de carros e caminhões.

Descemos no trevo de Touros, pegamos as bikes e continuamos até a Urca com mais tranquilidade.

Pedalamos felizes pela BR 101, dando tchau para os inúmeros caminhões do exército que passavam por nós.

Rapidamente chegamos à Urca, totalizando uma pedalada de 96km nesse dia.

* A bike está desempenhando otimamente e até agora não deu o menor problema.


Dia 18/03/2015 - Energia Vital

Hoje o vento estava forte!

Acordei com o corpo dolorido por causa do pedal de ontem, mas a energia vital da Denise Vida me atingiu e então saímos para as praias ao sul, até Lagoa do Sal e enquanto eu descansava nas pedras, ela foi além, por aquela enorme faixa de areia. Nunca vi tanta disposição!



De volta à Urca, peguei A Sombra do Vento e me larguei na rede. Não fosse as moscas e mosquitinhos insuportáveis e eu teria conseguido dormir um pouco.

Mais tarde fomos até Gostoso fazer algumas compras e voltamos após o por do sol.

Acho que a quantidade enorme de moscas se deve aos animais de grande porte que vivem em grande número por aqui.

Dia 19/03/2015 - Praias ao sul de Touros

Seis e meia da manhã e lá estávamos nós novamente no Expresso Cabral, com as bikes no bagageiro, para pedalar a costa sul de Touros. É tudo muito plano, claro.

Saindo do asfalto, chegamos em Carnaubinha.




Estrada de barro, com visual de dunas, nos leva até o Farol da Gameleira, com vista que alcança o Farol do Calcanhar, a mais de 20km de distância.
















Seguimos em frente por aquela estrada de terra vermelho escuro até a Praia de Perobas, muito bonita.



















A maré seca nos permitiu pedalar pela praia até Rio do Fogo, não muito atraente e um pouco suja.



Poderíamos seguir até Zumbi e Punaú, mas paredões impediriam nosso avanço pela praia. Como não queríamos pegar a BR, voltamos pela beira-mar e ficamos num quiosque na Praia de Perobas, entre pastéis e caipirinhas.

Muitos turistas chegam até esta praia para irem até os parrachos mergulhar.

Começamos o retorno por volta das 14 horas e paramos em Touros para uma água de coco.

Neste dia pedalamos 40Km.

Por aqui a gente encontra algumas frutas diferentes: araçá, umbu, graviola, seriguela, ubaia (deliciosa) e outras.

Saudades de todos. Acho que ela fica maior por causa dos 3.000km que nos separam.


Dia 20/03/2015 - Caminhando até a Praia do Cajueiro

As horas passam rápido e logo chegará o dia do retorno.

Decidimos caminhar ao sul de São José, passando pelas pedras, onde o mar deposita uma infinidade de conchas; pelos costões, aproveitando a maré seca; pelas dunas de Lagoa do Sal, onde acabam as pedras, até a Praia do Cajueiro, a duas horas de caminhada.



Como sempre, o vento estava presente dificultando nosso avanço.

Chegando na Vila, nos encharcamos de líquidos e voltamos com o vento a favor, o que fez a caminhada mais ligeira.

Quatro horas de caminhada e resolvi tirar a tarde para descansar os músculos e continuar a leitura da Sombra do Vento. Comecei a ler este livro de 400 páginas para passar o tempo e agora quero ver o final.

A Denise, com a energia de sempre, pegou a bike e foi até Gostoso.

Minha pele, por causa do sol e do vento, está super seca, apesar de estar usando o óleo Johnson que a Denise comprou e teve a bondade de dividir comigo. Aliás, cabe lembrar que ela dividiu comigo desde o celular até o óculos de leitura. Grande coração!

Hoje comprei um hidratante para pele excessivamente seca e me lambuzei dele para ver se resolve.


Dia 21/03/2015 - Sábado de chuva

Começou a chover ontem. Hoje, apesar de ter dado tempo de irmos até Gostoso, foi o tempo de chegarmos para conhecer a Pousada Casa de Taipa para sermos surpreendidas por uma forte chuva, que nos segurou lá durante um tempo.

Foi legal porque o espaço lá é muito bonito, rústico e o recepcionista se dispôs a esclarecer algumas questões históricas sobre a pousada e os povoados próximos. Ele mora no Morros dos Martins e vai de moto até a pousada, por 16km, todos os dias.

Na pousada Casa de Taipa tem também um museu, que é uma casa de taipa completa, inclusive com utensílios e móveis.

















Ficamos sabendo, entre outras coisas, que São Miguel do Gostoso tem seu próprio dinheiro - o Gostoso.




Dizem que quando chove no Nordeste no dia de São José, dia 19 de março, o inverno será bom para a agricultura e encherá as lagoas.


Igreja de São José
Na volta à Urca, pegamos chuva forte.

Os bikers do Pedal do Calcanhar foram fazer uma cicloviagem até Fortim, no Ceará. Que pena que não pudemos ir junto!...

Choveu o resto do sábado, mas as moscas não diminuem.


Dia 22/03/2015 - Mais um dia de chuva

"A bicicleta é um veículo curioso. Seu passageiro é seu motor." - John Howard (ciclista norte-americano)

Na brecha do tempo, fomos pedalar por aí, percorrendo todas as entradas de praias até Gostoso.

Otimistas, mesmo com barro, fomos até a Praia de Tourinho: a praia estava cheia de gente e aquele som brega e alto tão apreciado por aqui, nos fizeram dar meia volta, como se o encanto do lugar tivesse sido maculado.

Bem a tempo: quando saímos dos 7,5km de terra, começou a chover.

Em segurança, ficamos no quiosque da Praia de Maceió, naquele sol morno.

16h: A chuva cai, nós estamos na Urca e só nos resta apreciá-la por entre as árvores.

Parecia nada, mas a pedalada hoje rendeu 40km.


Dia 23/03/2015 - As horas escorrem entre os dedos.

Depois do fim de semana chuvoso, o dia amanheceu azul.

Uma certa urgência em fazer, ver, sentir, estar, tomou conta de nós.

As horas escorrem por entre os dedos, como a água do mar, esse mar azul-esverdeado de águas mornas que nos acolheu neste paraíso.

Pegamos as bikes e fomos até o povoado da Tabua, vizinho do Reduto, procurar pela fábrica de doces. Mas ela estava fechada. Estavam todos na feira, em Gostoso.


















Que tal nos despedirmos de Tourinho? É pra já!

O mar tranquilo parecia dizer: voltem sempre!




Com uma prece de gratidão ao Criador e à Vida, deixamos aquele recanto abençoado por Deus e nós, por nossa vez, abençoadas por ele.

Na volta, quando colocamos as rodas no calçamento, começou a chover.

Pedalada de 45km.

Dia 24/03/2015 - Despedida

Choveu muito durante toda a madrugada.

Nos reunimos no restaurante da Urca para sabermos sobre a cicloviagem ao Ceará e tivemos um pouco de aula de história potiguar com Edson e Lila, depois que eu parei para admirar a bandeira do Rio Grande do Norte, que está exposta em lugar de destaque no salão.

O mapa do Estado tem a forma de elefante. Achei muito curioso.




Fomos presenteadas com camisetas da Urca.

Quando o céu abriu, o azul era profundo.

Na nossa caminhada pela praia, ao norte, encontramos um mar calmo, que nos abraçou.

Jamais havia me sentido tão acolhida pelo oceano como nesse dia!

Ficamos longo tempo em silêncio, mergulhadas naquela água morna, gravando na retina aquela paisagem: a linha d'água beijando a areia sob a égide dos coqueirais.

Voltamos à Urca pensativas e esperançosas, após este abraço com a Natureza.

Dia 25/03/2015 - Bye bye

05:00h: saímos da Urca com chuva fina, em direção à Natal.

Enquanto Edson dirigia, mostrando uma ou outra coisa, minha alma ia leve, plena, confiante. E mais forte.


Agradecimentos:

- Ao Paulinho e Luciana, pelo suporte e traslado em São Paulo.

- Ao Edson Nobre, por liberar sua pequena oficina para nós.

- À Lila Nobre, por liberar a cozinha do restaurante para prepararmos nossas refeições.

- Ao Djalma e à Elisangela, da Urca, que nos atenderam com cortesia e amizade.