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sexta-feira, 29 de abril de 2011

APARECIDA - CUNHA - PARATY - TRINDADE - UBATUBA

PEDIVELA é o nome dado à peça que impulsiona a bicicleta, ou seja, acionando o pedivela você terá liberdade para ir onde quizer com ela.

E o pedivela girou muito nesta páscoa!

Tudo começou na rodoviária de Americana às 02:30 da madrugada, na espera do onibus que nos levaria à cidade de Aparecida, no vale do Paraíba.

A noite estava morna e iluminada pela lua cheia.

Como sempre ocorre com o cicloturista no Brasil, estávamos ansiosos antes do embarque da bike pois existe sempre a possibilidade do motorista não permiti-la montada no bagageiro. 
Com a empresa Itapemirim sempre acontece. Os motoristas são chatos e sempre tentam impedir o embarque, alegando vários fatores. Desta vez não foi diferente. Só que, na falta de argumentos eficientes, não teve jeito e lá fomos nós.

A viagem foi tranquila e, na chegada, o motorista tratou de dar mais uma bronca, avisando que "da próxima vez..."

Tomamos nosso café da manhã numa padaria pertinho do Santuário, fizemos nossas fotos e até demos uma chance pro lambe-lambe da praça da Igreja Velha nos retratar também.


















De Aparecida para Guaratinguetá é apenas uma avenida e, logo, logo alcançamos a Rodovia Paulo Virginio, que nos levaria à cidade de Cunha.




Guaratinguetá está a 530 metros acima do nível do mar e Cunha a 1.000 metros. Este aclive acontece em 47 quilometros. A impressão é que só tem subida de uma cidade para outra.





Os moradores da região chamam esta subida de "Serra de Guará".  A subida, posso afirmar, é exigente e, apesar do clima montanhês, o dia estava quente. O monóxido de carbono liberado pelos automóveis e o peso das bikes contribuiu para que fizéssemos algumas paradas nas sombras.

Eu subi no meu ritmo, mas a velocidade média não passou dos 10km/h. Como geralmente estava na frente do Ricardo e da Maria Inez, estreante, por sinal, num ciclotur de longa distância, acho que fui eu quem mais descansou nas subidas.


















Eu vinha de uma semana super cansativa e atarefada, sem dormir direito há pelo menos 3 dias.

Havíamos pedalado cerca de 30km quando a Maria Inêz resolveu pedir carona para um pequeno caminhão que passava. O pico da subida lá longe. O sol forte e o cansaço de dias fez com que eu topasse, sem medo de perder a "carteirinha" (rsrsrsrs...).

Chegamos em Cunha as 14:30 horas. Começamos a procurar uma pousada, mas a maior necessidade era de algo gelado para beber. 
Paramos numa esquina para pensar qual direção tomar, uma vez que Cunha está situada num mar de morros.

Logo vimos uma mercearia e para lá nos dirigimos.

Neusa, de Cunha, Maria Inez e Ricardo


Fomos atendidos por uma simpática mulher que nos atendeu com alegria e nos ofereceu pinhões assados, uma coca-cola geladinha e ainda um quarto com jantar incluso!
Ela nos levou até o quarto, trinta degraus acima.

Não era bem uma pousada. A Neusa, dona do local, nos conta que ela abriga geralmente cavaleiros em rota peregrina, pois ela própria atua como cavaleira, e dá pouso e refeição quando acontece a procissão de São Benedito na cidade. Ela é uma pessoa especial, generosa e de alma boa. Sabe o que ela fez na praça em frente à sua casa? Montou uma banca de roupas: as pessoas pegam o que lhes serve e trazem outras com a mesma finalidade. Achei muito interessante essa idéia.

Além de nos acolher com simpatia e generosidade, levou-nos para um passeio turistico pela cidade. A arquitetura, os casarões preservados; o fato de Cunha ter sido palco de uma das batalhas da Revolução Constitucionalista; rota dos tropeiros que escoavam o ouro das Minas Gerais no tempo do Brasil colônia.


















De volta à casa da Neusa, cansados, resolvemos descansar sob a lua cheia, "luarizando a alma". Foi muito gostoso e revigorante.

Dormimos muito bem, o que seria essencial para o pedal do dia seguinte, pela linda estrada que corta a Serra da Bocaina.


Nosso destino no segundo dia é Paraty.

Saímos às 8 horas da pousada e, de cara, a saída da cidade é um subidão enorme.  Mas vamos lá!

Olhando a subida vencida
































Esta estrada é especialmente bonita, colorida pelos manacás e quaresmeiras nesta época do ano e com muitas, muitas subidas. Eu subi todas, mesmo com a bike pesada, menos um morro com inclinação muito forte.




















Apesar disso, encontramos pelos menos duas descidas longas, lindas e alucinantes.



Nesta estrada existe um monumento em homenagem ao lavrador Paulo Virginio, que foi morto na revolução constitucionalista. Este monumento fica no alto da serra e nós paramos alí para um lanche. Eram 10:15 da manhã.



















Nosso plano era subir a Pedra da Macela, 1.840 metros de altitude, antes de seguir para Paraty, mas obras na estrada nos confundiram e, quando percebemos, a entrada para a pedra tinha ficado lá atrás. Que pena!

Os marcos da ER estão presentes por todo o caminho, muitos deles depredados pela ignorância humana. 



Um destes marcos ocupa um lindo lugar, em frente à cachoeira do Mato Limpo, na beira da rodovia. Parada obrigatória para descanso e fotos.



Depois da cachoeira a subida continua, longa, terminando apenas a 1.500 metros de altitude, na divisa dos estados de SP e RJ.



















A partir daí já estamos dentro do Parque Nacional da Serra da Bocaina.


Deste ponto em diante teremos 20 quilometros de descida, até o nível do mar, em Paraty.


A estrada é de terra e carros normais descem com muita, muita dificuldade. Seria melhor se os motoristas fizessem outra opção de rota porque tem veículos que quebram por não suportarem os trancos e barrancos da estradinha.


Mas, para nós, ciclistas, embora a dificuldade, temos o privilégio de observar a inspiradora beleza da Mata Atlântica sem estresse.


















Pelo menos num trecho de 10 quilometros a descida é casca-grossa e foi necessário frear a bike no último. Mesmo assim, tive que descer dela algumas vezes por causa do peso na traseira.
Não foi fácil. A descida, muito técnica e perigosa exigiu tudo do XT.
A estrada está muito pior do que há três anos atrás, quando passei por alí.


















Encontramos um carro penando para sair da buraqueira e seu dono muito nervoso.



Quando termina o trecho de terra, a descida continua no asfalto, linda, com muitas curvas.



















Na altitude de 855 metros encontramos o ponto de apoio do Parque Nacional, uma mistura de barzinho e ponto de apoio ao turista.


Na beira da estrada também encontramos uma cerâmica, tipico na serra.


















Quando chegamos no final da descida, logo encontramos a Casa do Caminho, ou algo assim, em frente à Igreja da Penha.




















Eram quase 17 horas e estávamos com muita fome. Resolvemos parar numa casa, que era também um restaurante, para almoçar.


Depois, foi só pegar a ciclovia e estávamos em Paraty. 
Eram 18 horas quando chegamos no Centro de Apoio ao Turista. Uma funcionária nos auxiliou na busca de uma pousada.
Jah mais uma vez iluminando nossos caminhos: véspera de feriado e encontramos uma pousada bacana e bem barata. Pousada Lua Clara, com piscina e tudo.



Noite bem dormida.

O tradicional e esperado passeio pelos famosos pé de moleque de Paraty, suas igrejas e fachadas, sua singularidade. 



















Procuramos o último marco da ER e o encontramos meio escondido, na praça que fica bem na entrada do Centro Histórico.


Após o descanso do almoço, saímos pela Rio-Santos em direção à Vila de Trindade.



O movimento de veículos já era grande e o acostamento, péssimo. 
Nem demorou tanto para chegarmos no antigo moinho do quilombo, uma queda d'água super convidativa!


Paramos para nos refrescar, claro.

Em pouco tempo alcançamos a Vila do Patrimônio, onde tomamos um isotônico.

Eram 15 horas quando iniciamos a subida de 5 quilometros, pela APA Cairuçu, que dá acesso à Vila de Trindade.
Que subida! 



















Demoramos 1 hora entre subir os quatro quilometros e descer outros cinco.


E é desta estradinha perigosa e linda  que temos o primeiro visual deste lugar maravilhoso.


Um pouco antes de chegar na vila, encontramos o camping Oficina do Som, o melhor e mais organizado da Trindade, em frente à Praia de Fora. Fomos os primeiros a chegar, escolhemos o local, montamos acampamento e corremos pra areia ver o por do sol.


Visual do camping
















Emoção e alegria por estar novamente neste lugar feito no capricho por Deus!



Eu estava um pouco apreensiva com as noticias da Trindade. Amigos me contaram de crimes ambientais que estavam acontecendo por alí, e de um condominio que fecharia a Praia do Meio num futuro próximo.

Mas o que encontrei foi muito diferente. Para evitar o interesse imobiliário, o governo federal resolveu expandir o Parque Nacional da Bocaina para a área litoranea da Trindade a partir de 2008. 
Assim, o ICM/bio (Instituto Chico Mendes/biomas) cuida da conservação do ecossistema e atua na orientação aos turistas. 

Acreditas que quando a vila foi descoberta pelos turistas, na década de 1970, apareceu uma companhia imobiliária multinacional com a escritura da toda a Trindade? 
O pessoal do Instituto Chico Mendes estava distribuindo um folder contando essa história. 

Este papel rendeu um grande conflito entre os moradores nativos e os poderosos, que só terminou em 1982 após um acordo entre as duas partes.
É incrivel o estrago que o poderio econômico pode fazer. 
Graças a Deus o Governo Federal tomou uma atitude nobre e a Trindade será de todos e não apenas de alguns.

Cabeça do Indio, na Ponta da Trindade


A Vila lotou no feriado e a quantidade de carros me assustou. A descida de automóveis deveria ter um controle lá em cima. 

Ficamos na Trindade dois dias, curtindo aquelas praias lindas, a piscina natural, as cachoeiras, a própria vila. 
Trilha para a praia do Cachadaço

Piscina do Cachadaço

Eu e Maria Inez na pedra da Praia do Meio


Trilha para a cachoeira
Cachoeira
Praia do Cepilho
























































































Era ainda madrugada de sábado, quatro horas da manhã, e lá fomos nós subir a subida do Deus-Me-Livre. Demoramos mais de uma hora para vencer os quatro quilometros. É punk!



Quando chegamos na Rio-Santos o sol estava começando a tingir o céu de vermelho.

Pedalamos com tranquilidade e sombra a maior parte do caminho até Ubatuba.


















O feriadão estava bombando com dias quentes e céu azul e a quantidade de carros começou a aumentar por volta da dez horas. Observei um congestionamento grande. Um horror!

E mais uma vez, Jah na nossa frente fez com que chegássemos na rodoviária junto com o ônibus. 
O embarque das bikes pela Litorânea foi tranquilo, sem perguntas, só sorrisos do motorista. Esse é o espírito!
Por todo o caminho, desde o café da manhã na padaria em Aparecida só encontramos pessoas da paz, da camaradagem, da confiança.

A boa companhia de pedal, o espírito de equipe que envolveu a nós três foi muito limportante, deixando o percurso muito mais legal.

E o pedivela breve voltará a girar pelas estradas do Brasil.

VÁ DE BIKE!

Até a próxima!